Biscoito ou Bolacha: Quem está certo no debate mais crocante do Brasil-sil-sil?
No Brasil, uma das discussões mais saborosas – e calorosas – que transcendem gerações é sobre como chamar aquele item delicioso que acompanha o café ou o chá da tarde. Enquanto em São Paulo a maioria usa o termo “bolacha”, no Rio de Janeiro prevalece “biscoito”. O tema rende memes, piadas e até debates pseudofilosóficos! Mas, afinal, quem está certo? Já vou dar um spoiler: talvez ambos estejam…
Origem dos termos
No português europeu, origem da nossa língua, tanto “biscoito” quanto “bolacha” existem, mas com diferenças bem claras:
Biscoito vem do latim biscoctus, que significa “cozido duas vezes”. Originalmente, referia-se a alimentos secos e crocantes preparados dessa forma, como os biscoitos duros dos marinheiros.
Bolacha deriva de bola, indicando algo arredondado e menos sofisticado, frequentemente mais macio que o biscoito tradicional.
Portanto, em Portugal, ambas as palavras têm espaço, mas “biscoito” tende a ser usado para produtos doces e industrializados, enquanto “bolacha” é algo mais caseiro ou bem específico, como “bolacha Maria”.
Em momentos de polarização…
A dúvida entre biscoito e bolacha parece mais regional do que semântica. Já que em São Paulo e em localidades da Região Sul Bolacha é a escolha adotada, seja para doces ou salgados. No Rio de Janeiro e em grande parte do nordeste usa-se biscoito.
Essa diferença levou cariocas a brincarem com os paulistas, dizendo que “bolacha é coisa de bater”, referindo-se à bolacha na cara, ou que “bolacha é o que você leva, e biscoito é o que você come”. Por outro lado, os paulistas devolvem o sarcasmo, dizendo que “biscoito é para cachorro”. Tudo isso, claro, com tom de humor.
E no dicionário?
Os dicionários de referência, como Houaiss e Aurélio, até que tentam pacificar a discussão:
Bolacha: massa de farinha e açúcar (ou salgada) assada no forno, geralmente achatada.
Biscoito: produto assado feito de massa à base de farinha, açúcar e outros ingredientes, podendo ser doce ou salgado.
Até certo ponto, são sinônimos e referem-se a variedades de um mesmo produto. O embate provavelmente se fortaleceu por razões culturais e identitárias. Cada estado tem orgulho de suas expressões linguísticas, e a disputa “biscoito x bolacha” é uma forma leve de reforçar essas identidades. Afinal, a língua reflete a diversidade do Brasil, e cada variação traz um pouco da história e do jeito único de ser de cada região. Você pode dizer mexerica ou tangerina e está tudo bem.
E você, caro(a) leitor(a), de que lado está nesta deliciosa polêmica? Conta pra gente! Enquanto isso, vamos abrir um pacote de biscoito… Ops, ou seria bolacha?
Já lhe ocorreu se perguntar se as palavras “monstro” e “mostrar” têm a mesma origem?
Coisas da senhora língua portuguesa… Ela assim como muitas línguas românicas, é profundamente enraizada no latim, e as palavras “mostrar” e “monstro” oferecem um exemplo fascinante de como significados podem se desenvolver de maneiras divergentes a partir de uma mesma raiz etimológica.
A palavra “mostrar” vem do latim monstrare, que significa “apontar”, “indicar” ou “exibir”. Esse verbo latino tem como raiz monstrum, que originalmente se referia a “algo que aponta ou indica”. No sentido mais antigo, monstrare estava ligado ao ato de fazer algo visível ou claro para os outros, de “indicar com clareza”, e, ao longo do tempo, passou a significar “exibir” ou “mostrar”.
Esse desenvolvimento semântico faz sentido, pois mostrar algo é, essencialmente, chamar a atenção para ele, torná-lo visível aos outros. O verbo manteve seu caráter neutro e funcional ao longo dos séculos, mantendo a ideia de tornar algo evidente, seja de forma física, ao exibir um objeto, ou figurativa, ao expor um argumento ou ideia.
Curiosamente, a mesma raiz que deu origem a “mostrar” também deu origem à palavra “monstro”. No latim clássico, monstrum inicialmente tinha o sentido de “presságio”, especialmente algo que desviasse do normal e indicasse a ira ou favor divino. Era um “sinal” (muitas vezes negativo) enviado pelos deuses para avisar ou alertar os humanos sobre eventos sobrenaturais ou extraordinários.
Com o tempo, monstrum passou a designar qualquer coisa que fosse considerada fora do comum ou desfigurada, algo que quebrasse a norma da natureza ou sociedade. A palavra começou a ser associada a deformidades físicas, criaturas fantásticas e seres que inspiravam medo ou assombro. No período medieval, quando as lendas sobre dragões, demônios e outras criaturas extraordinárias ganhavam força, “monstro” consolidou-se como o termo para designar esses seres anômalos e assustadores.
Assim, a partir do sentido original de “sinal” ou “indicação”, monstrum passou a designar algo que “mostra” ou “revela” uma quebra das leis naturais, tornando-se sinônimo de algo temível, incomum e, em muitos casos, grotesco.
A Divergência de Significados
Enquanto “mostrar” manteve o sentido original de exibir ou indicar, “monstro” passou por um desvio de significado, adquirindo conotações negativas associadas ao medo e à anormalidade. Esse processo de divergência é comum nas línguas, onde palavras que compartilham uma origem comum acabam adquirindo significados muito diferentes, dependendo do contexto histórico e cultural.
Em resumo, monstrare deu origem à palavra “mostrar”, associada à simples ação de exibir, enquanto monstrum, apesar de compartilhar a mesma raiz, evoluiu para “monstro”, uma palavra que carrega uma carga emocional intensa, representando aquilo que é estranho, aterrorizante e fora dos limites do que consideramos normal.
Qual a relação entre coisa barata e barata (inseto)?
O termo “barato” é um tanto controverso. Alguns entendem que suas raízes têm origem no latim vulgar “barattus”, que significava “troca” ou “negociação”, indicando uma transação comercial na qual se buscava um preço vantajoso. Com o tempo, essa palavra evoluiu para “barato” em várias línguas neolatinas, como no nosso idioma português, mantendo sua conotação original de algo que é acessível ou de baixo custo.
Outra teoria propõe que o termo “barato” possa ter sido influenciado pela palavra árabe “barāṭ”, que significa “libertação” ou “isento de”. Nessa perspectiva, o termo teria sido introduzido na Península Ibérica durante o período de domínio muçulmano e teria adquirido o significado de algo que estava livre de encargos ou impostos, o que eventualmente evoluiu para significar algo de preço acessível.
Seja como for, barato não é o marido da barata… Falando nisso, “barata”, referente ao inseto, tem sua origem em outro contexto linguístico. Derivando do latim “blatta”, a palavra “barata” era usada para descrever os insetos rastejantes noturnos que habitavam principalmente ambientes úmidos. Essa palavra foi preservada ao longo das línguas românicas com poucas variações, mantendo sua associação com o inseto.
Apesar de suas semelhanças fonéticas, “barato” e “barata” possuem significados distintos e derivam de raízes etimológicas diferentes. Enquanto “barato” está ligado ao comércio e à economia, denotando algo de preço acessível, “barata” refere-se a um tipo específico de inseto, com características próprias e uma história evolutiva separada. Por sinal, um bichinho repugnante que é o horror das mulheres.
Assim, embora possam soar parecidos aos ouvidos, é importante reconhecer que “barato” e “barata” têm origens e significados diferentes, refletindo a riqueza e a complexidade da evolução linguística ao longo do tempo.
Curiosidade: O dicionário Cândido de Figueiredo, de 1913, traz o verbete “baratar” não só como sinônimo de baratear, mas também com o significado de “destruir”. Mulheres, chegou a hora de baratar as baratas!
Marcos Antonio Fiorito
(Com informações extraídas a partir do Chat GPT, dicionários Michaelis, Aurélio e Cândido de Figueiredo.)