Quem diria?! Saudade e solidão têm a mesma origem
“A saudade é a memória do coração”, escreveu certa vez o romancista e teatrólogo maranhense Coelho Neto. Já Olavo Bilac, com aquele talento que lhe era singular, afirmou: “A saudade é a presença dos ausentes.”. Quantas vezes você já ouviu dizer que saudade é uma palavra que só existe na língua portuguesa, que ela é, até certo ponto, intraduzível? À primeira vista, tentar explicar saudade para um estrangeiro é uma tarefa ingrata, mas nem tanto…
De onde surgiu essa palavrinha tão especial? Se você puxar o fio da meada, vai descobrir que o termo saudade nasceu no latim vulgar, mais precisamente da palavra “solitate” (da raiz solitas, solitatis), que basicamente queria dizer solidão. Com o tempo, essa palavra foi se transformando; primeiro em “soidade” ou “soedade” no português antigo, já indicando um sentimento de quem está só, porém começava já a ganhar aquelas camadas de melancolia e significado de “sentir falta”, como conhecemos hoje.
Foi durante a Idade Média, enquanto o português se emancipava do galego e do latim como uma língua com identidade própria, que “soidade” virou de vez “saudade”. E não foi só mudança de letra… O sentido também se aprofundou: deixou de ser só a solidão física para abraçar toda aquela dor gostosa de quem lembra de algo bom que ficou para trás.
Aí vieram as Grandes Navegações, com embarcações partindo para o desconhecido. Imagina só: marinheiros deixando famílias inteiras, amores de juventude, a terrinha onde nasceram… Tudo para se aventurar num mar sem fim. Muitos sabiam que nunca mais voltariam. Foi aí que a saudade virou quase uma filosofia portuguesa, um jeito de viver e sentir que marcou para sempre aquele povo.
Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
(Fernando Pessoa – Poema x Mar Português.)
Quando chegou ao Brasil, nossa saudade ganhou tempero novo. Misturou-se com a batida do tambor, com o lamento indígena, com a alegria e a dor dos encontros e desencontros que formaram nossa gente. Aqui, ela ganhou ritmo, virou música, poesia de cordel, conversa de fim de tarde… A saudade brasileira tem algo de celebração – a gente sente saudade, mas de certa forma isso é um jeito de manter vivo o que já passou.
É por isso que, até hoje, a saudade está entranhada na nossa música, nos nossos livros, no nosso papo de botequim. É tristeza, mas também é carinho; é ausência que se faz presente; é passado vivo no agora. Por isso mesmo que a gente nunca conseguiu explicar com exatidão para os gringos; afinal, como traduzir em uma palavrinha só algo tão imponderável?
Marcos Antonio Fiorito
Biscoito ou Bolacha: Quem está certo no debate mais crocante do Brasil-sil-sil?
No Brasil, uma das discussões mais saborosas – e calorosas – que transcendem gerações é sobre como chamar aquele item delicioso que acompanha o café ou o chá da tarde. Enquanto em São Paulo a maioria usa o termo “bolacha”, no Rio de Janeiro prevalece “biscoito”. O tema rende memes, piadas e até debates pseudofilosóficos! Mas, afinal, quem está certo? Já vou dar um spoiler: talvez ambos estejam…
Origem dos termos
No português europeu, origem da nossa língua, tanto “biscoito” quanto “bolacha” existem, mas com diferenças bem claras:
Biscoito vem do latim biscoctus, que significa “cozido duas vezes”. Originalmente, referia-se a alimentos secos e crocantes preparados dessa forma, como os biscoitos duros dos marinheiros.
Bolacha deriva de bola, indicando algo arredondado e menos sofisticado, frequentemente mais macio que o biscoito tradicional.
Portanto, em Portugal, ambas as palavras têm espaço, mas “biscoito” tende a ser usado para produtos doces e industrializados, enquanto “bolacha” é algo mais caseiro ou bem específico, como “bolacha Maria”.
Em momentos de polarização…
A dúvida entre biscoito e bolacha parece mais regional do que semântica. Já que em São Paulo e em localidades da Região Sul Bolacha é a escolha adotada, seja para doces ou salgados. No Rio de Janeiro e em grande parte do nordeste usa-se biscoito.
Essa diferença levou cariocas a brincarem com os paulistas, dizendo que “bolacha é coisa de bater”, referindo-se à bolacha na cara, ou que “bolacha é o que você leva, e biscoito é o que você come”. Por outro lado, os paulistas devolvem o sarcasmo, dizendo que “biscoito é para cachorro”. Tudo isso, claro, com tom de humor.
E no dicionário?
Os dicionários de referência, como Houaiss e Aurélio, até que tentam pacificar a discussão:
Bolacha: massa de farinha e açúcar (ou salgada) assada no forno, geralmente achatada.
Biscoito: produto assado feito de massa à base de farinha, açúcar e outros ingredientes, podendo ser doce ou salgado.
Até certo ponto, são sinônimos e referem-se a variedades de um mesmo produto. O embate provavelmente se fortaleceu por razões culturais e identitárias. Cada estado tem orgulho de suas expressões linguísticas, e a disputa “biscoito x bolacha” é uma forma leve de reforçar essas identidades. Afinal, a língua reflete a diversidade do Brasil, e cada variação traz um pouco da história e do jeito único de ser de cada região. Você pode dizer mexerica ou tangerina e está tudo bem.
E você, caro(a) leitor(a), de que lado está nesta deliciosa polêmica? Conta pra gente! Enquanto isso, vamos abrir um pacote de biscoito… Ops, ou seria bolacha?
Já lhe ocorreu se perguntar se as palavras “monstro” e “mostrar” têm a mesma origem?
Coisas da senhora língua portuguesa… Ela assim como muitas línguas românicas, é profundamente enraizada no latim, e as palavras “mostrar” e “monstro” oferecem um exemplo fascinante de como significados podem se desenvolver de maneiras divergentes a partir de uma mesma raiz etimológica.
A palavra “mostrar” vem do latim monstrare, que significa “apontar”, “indicar” ou “exibir”. Esse verbo latino tem como raiz monstrum, que originalmente se referia a “algo que aponta ou indica”. No sentido mais antigo, monstrare estava ligado ao ato de fazer algo visível ou claro para os outros, de “indicar com clareza”, e, ao longo do tempo, passou a significar “exibir” ou “mostrar”.
Esse desenvolvimento semântico faz sentido, pois mostrar algo é, essencialmente, chamar a atenção para ele, torná-lo visível aos outros. O verbo manteve seu caráter neutro e funcional ao longo dos séculos, mantendo a ideia de tornar algo evidente, seja de forma física, ao exibir um objeto, ou figurativa, ao expor um argumento ou ideia.
Curiosamente, a mesma raiz que deu origem a “mostrar” também deu origem à palavra “monstro”. No latim clássico, monstrum inicialmente tinha o sentido de “presságio”, especialmente algo que desviasse do normal e indicasse a ira ou favor divino. Era um “sinal” (muitas vezes negativo) enviado pelos deuses para avisar ou alertar os humanos sobre eventos sobrenaturais ou extraordinários.
Com o tempo, monstrum passou a designar qualquer coisa que fosse considerada fora do comum ou desfigurada, algo que quebrasse a norma da natureza ou sociedade. A palavra começou a ser associada a deformidades físicas, criaturas fantásticas e seres que inspiravam medo ou assombro. No período medieval, quando as lendas sobre dragões, demônios e outras criaturas extraordinárias ganhavam força, “monstro” consolidou-se como o termo para designar esses seres anômalos e assustadores.
Assim, a partir do sentido original de “sinal” ou “indicação”, monstrum passou a designar algo que “mostra” ou “revela” uma quebra das leis naturais, tornando-se sinônimo de algo temível, incomum e, em muitos casos, grotesco.
A Divergência de Significados
Enquanto “mostrar” manteve o sentido original de exibir ou indicar, “monstro” passou por um desvio de significado, adquirindo conotações negativas associadas ao medo e à anormalidade. Esse processo de divergência é comum nas línguas, onde palavras que compartilham uma origem comum acabam adquirindo significados muito diferentes, dependendo do contexto histórico e cultural.
Em resumo, monstrare deu origem à palavra “mostrar”, associada à simples ação de exibir, enquanto monstrum, apesar de compartilhar a mesma raiz, evoluiu para “monstro”, uma palavra que carrega uma carga emocional intensa, representando aquilo que é estranho, aterrorizante e fora dos limites do que consideramos normal.
Você sabia que o termo “propaganda” surgiu com a Igreja Católica?
“A propaganda é a alma do negócio!” Quantas vezes você ouviu essa frase? A palavra “propaganda” é amplamente conhecida e utilizada nos dias de hoje, principalmente em contextos de publicidade e política. No entanto, sua origem remonta a uma instituição que muitos talvez não associem imediatamente com o termo: a Igreja Católica. Vamos explorar a fascinante história e evolução dessa palavra.
Origem do termo
A palavra “propaganda” deriva do verbo latino “propagare,” que significa “propagar,” “expandir” ou “reproduzir.” Essa raiz etimológica já sugere a ideia de divulgação, disseminação e ampliação, conceitos centrais para o entendimento da propaganda.
O uso mais conhecido do termo começou no século XVII. Em 1622, o Papa Gregório XV criou a “Congregatio de Propaganda Fide” (Congregação para a Propagação da Fé). O objetivo desta congregação era promover a fé católica e coordenar as atividades missionárias da Igreja em todo o mundo. Ela tinha a responsabilidade de difundir os ensinamentos da Igreja Católica e converter pessoas ao catolicismo em diversas regiões.
Evolução do uso nos séculos XVIII e XIX
Com o passar do tempo, a palavra “propaganda” começou a ser utilizada de forma mais ampla, referindo-se à disseminação de informações ou ideias com o propósito de influenciar a opinião pública. Esse uso não se restringia apenas à religião, mas também incluía campanhas políticas e sociais.
Século XX
Durante o século XX, especialmente nas guerras mundiais, o termo ganhou uma conotação mais política. A propaganda tornou-se uma ferramenta poderosa para governos que desejavam influenciar a percepção pública e moldar opiniões a favor de causas específicas. Regimes totalitários, como os nazistas na Alemanha e os soviéticos na União Soviética, utilizaram a propaganda de forma intensa para controlar a opinião pública e promover suas agendas.
Propaganda Hoje
Atualmente, a propaganda é vista como uma forma de comunicação que busca influenciar as atitudes, crenças e comportamentos das pessoas. Pode ser utilizada em diversos contextos, incluindo publicidade, política, religião e campanhas sociais. A distinção entre propaganda e publicidade pode ser sutil, mas geralmente a propaganda é associada a esforços mais direcionados e sistemáticos para mudar ou reforçar crenças e atitudes.
Conclusão
A história do termo “propaganda” é um testemunho de como as palavras podem evoluir e adquirir novos significados ao longo do tempo. Originada com um propósito religioso de propagação da fé católica, a palavra hoje abrange uma vasta gama de esforços de comunicação destinados a influenciar o pensamento e o comportamento humano. A próxima vez que você ouvir a palavra “propaganda,” lembre-se de suas raízes históricas e do impacto duradouro da Congregação para a Propagação da Fé.
“Houve tempos” ou “houveram tempos”?
Ah, o maravilhoso mundo da gramática! Repleto de regras que parecem saídas diretamente de um livro de enigmas… Entre elas, temos o nosso querido e enigmático verbo “haver”. Se você já se pegou dizendo “houveram tempos” ou “houveram problemas”, sinto muito, mas a gramática não vai perdoar. Por que isso acontece? Vamos desvendar juntos esse mistério!
O sujeito da frase, então, resolveu tirar férias
Primeiramente, precisamos entender uma coisa básica: o verbo haver, quando usado no sentido de existir, simplesmente não tem sujeito. Sim, você leu certo. É como se o sujeito tivesse resolvido tirar férias eternas e nunca mais voltasse.
Imagine a seguinte frase: “Houve tempos em que tudo era feito manualmente.” Note como o “houve” está ali, solitário, segurando as pontas, sem nenhum sujeito para lhe fazer companhia. Isso acontece porque, nesse caso, o verbo haver é impessoal. Não se atreva a tentar colocar alguém para acompanhá-lo, ele gosta mesmo é da solidão.
Sempre na terceira pessoa do singular
Agora, vamos ao próximo passo da investigação: por que o “haver” insiste em ficar sempre na terceira pessoa do singular? É simples: como ele é impessoal, não há ninguém para conjugar com ele. Pense nele como aquele colega de trabalho que sempre faz tudo sozinho e não gosta de dividir tarefas.
Por isso, dizer “houveram tempos” é como tentar forçar esse solitário a participar de uma festa em que ele definitivamente não quer estar. A forma correta é sempre “houve”. Então, a frase correta é: “Houve tempos em que todo o trabalho era feito manualmente.” Viu como fica mais elegante?
O lobo solitário da gramática
Para nunca mais cair na armadilha de dizer “houveram”, pense no “haver” como o lobo solitário da gramática. Ele prefere a paz e a tranquilidade da terceira pessoa do singular. Respeite essa preferência e sua vida gramatical será muito mais tranquila.
Lembre-se: “Há muitas razões para estudar gramática” e “Houve momentos em que estudá-la parecia impossível”, mas nunca “houveram razões” ou “houveram momentos”.
Conselho valioso!
Então, da próxima vez que você estiver prestes a usar “houveram”, pare e pense: “O verbo ‘haver’ no sentido de existir não gosta de companhia. Ele é um solitário por natureza.” Mantenha-o na terceira pessoa do singular e você estará sempre no caminho certo.
A gramática agradece!
Qual o valor da boa dicção na obtenção de um emprego?
Acredite ou não, há quem diga que uma boa dicção pode ser o diferencial entre conseguir um emprego dos sonhos ou permanecer no temido limbo do desemprego. Afinal, não pega bem ter habilidades específicas e um currículo impressionante e não saber pronunciar bem as palavras.
Dizem que a comunicação clara é essencial no ambiente de trabalho. Imagine um cenário onde você, candidato brilhante, é chamado para uma entrevista. Seu currículo é impecável, sua experiência é vasta, mas quando você abre a boca, suas palavras saem emboladas, como se estivessem presas em um emaranhado linguístico. O entrevistador, evidentemente, não consegue entender metade do que você diz.
Ah, mas se você tivesse uma dicção perfeita! Aquele “bom dia” dito com clareza cristalina, aquele “prazer em conhecê-lo” que soa como música aos ouvidos do recrutador, sem dúvida isso pesaria muito a seu favor na garantia da sua vaga na empresa.
Boa pronúncia é um diferencial competitivo
Estamos na era em que a pronúncia correta das palavras se tornou o novo diferencial competitivo. Esqueça os cursos de especialização, os certificados de competências e o networking. Um dos segredos para obter o emprego dos seus sonhos está na sua capacidade de articular cada sílaba com precisão. Afinal, quem não quer um funcionário que, além de todas as suas competências, consegue dizer “proatividade” sem tropeçar nas letras?
A ironia das exigências modernas
É quase cômico pensar que, em um mercado de trabalho cada vez mais exigente, onde se busca inovação, adaptabilidade e pensamento crítico, a dicção ainda pode ser vista como um critério eliminatório. Claro, é importante comunicar-se bem, mas será que a perfeição na fala deve realmente ser um divisor de águas?
Enquanto alguns especialistas insistem na importância de uma comunicação impecável, outros podem argumentar que o conteúdo da mensagem é o que realmente importa. Mas se buscamos evoluir em tudo, nos aprimorarmos naquilo que a nossa profissão exige, por que não na linguagem? Então é realmente essencial falar bem. Afinal, não é só na busca de um emprego. Quem nunca ouviu a namorada ou o namorado dizer: “Puxa, como você fala bem! Que dicção maravilhosa!”? Uma frase como essa mexe com o ego da gente, não mexe?
A dicção no mundo real
No fim das contas, ter boa dicção é uma vantagem, sem dúvida. Mas vamos ser sinceros: não é ela que irá, por si só, garantir seu lugar ao sol no competitivo mercado de trabalho. Empresas procuram pessoas que tragam valor real, que tenham ideias inovadoras e que saibam colaborar com a equipe. Então, sim, trabalhe sua dicção, mas não se esqueça de que ela é apenas uma das muitas peças do quebra-cabeça.
Então, da próxima vez que você tropeçar em uma palavra durante uma entrevista, respire fundo. Fale de forma mais calma e pausada, que tudo ficará bem mais fácil.
Boa sorte e sucesso na próxima oportunidade!
Por que não se usa crase antes de palavra masculina?
A crase é um fenômeno linguístico que ocorre na língua portuguesa quando há a fusão de duas vogais idênticas, resultando no uso do acento grave (à). Apesar de ser um assunto que gera muitas dúvidas, suas regras são claras e consistentes. Uma dessas regras estabelece que não deve haver crase antes de palavras masculinas. Vamos entender o porquê disso, utilizando o exemplo da expressão “Graças a Deus”.
A regra da crase
A crase ocorre, em geral, na fusão da preposição “a” com o artigo definido feminino “a” ou “as”. Por exemplo:
- à (a + a): Vou à escola.
- às (a + as): Fui às lojas.
Por que não se deve usar crase antes de palavras masculinas?
Palavras masculinas, por sua natureza, não exigem o artigo feminino “a”. Logo, não há como ocorrer a fusão entre a preposição “a” e o artigo “a”. Portanto, antes de palavras masculinas, simplesmente utilizamos a preposição “a” sem crase.
Exemplo: “Graças a Deus”
No caso de “Graças a Deus”, temos a preposição “a” exigida pelo substantivo “graças”, seguida de “Deus”, que é uma palavra masculina. Não há artigo definido feminino a ser incorporado, logo, a crase é desnecessária e incorreta.
Outros exemplos de uso correto da preposição “a” antes de palavras masculinas:
- Vou a pé.
- Assisti a um jogo.
- Entreguei a encomenda a João.
Em todos esses casos, temos a preposição “a” sem a presença de crase porque as palavras que seguem são masculinas ou não exigem o artigo feminino “a”.
Conclusão
O uso correto da crase é essencial para a escrita formal e correta do português. Entender que a crase só ocorre antes de palavras femininas evita muitos erros comuns. Portanto, expressões como “Graças a Deus” são sempre escritas sem crase, uma vez que “Deus” é uma palavra masculina.
Dicas para evitar erros com crase:
- Verifique o gênero da palavra: Se a palavra é masculina, não use crase;
- Teste com uma palavra feminina: Substitua a palavra por uma equivalente feminina para ver se a crase seria usada;
- Conheça as locuções e expressões fixas: Em expressões como “à medida que” ou “à noite”, a crase é necessária, mas em expressões como “a pé” ou “a cavalo”, ela não é usada.
Prática
Para fixar o aprendizado, aqui estão alguns exercícios para você praticar. Indique se há ou não crase nas frases abaixo:
- Vou a Recife amanhã.
- Assisti a peça de teatro ontem.
- Caminhei a beira do rio.
- Fui a São Paulo no fim de semana.
Respostas:
- Vou a Recife amanhã.
- Assisti à peça de teatro ontem.
- Caminhei à beira do rio.
- Fui a São Paulo no fim de semana.
Essa língua portuguesa… Cara (rosto) | Cara (preço) | Cara (pessoa)
Vamos falar sobre uma curiosidade da nossa língua portuguesa que pode confundir quem é de fora e não fala nosso idioma: a palavra “cara” pode ter significados bem diferentes. Por sinal, essa peculiaridade da nossa língua, por onde uma mesma palavra pode ter sentidos tão distintos, causa espécie em muitos estrangeiros. E não é para menos, pois são significados que mudam totalmente de acordo com o contexto.
Cara (rosto)
Quando falamos “cara” no sentido de rosto, estamos nos referindo à parte da frente da cabeça humana, onde estão os olhos, o nariz e a boca. Por exemplo: “Ela tem uma cara simpática!”. Nesse caso, “cara” é sinônimo de rosto, e é aquela parte que todo mundo adora mostrar nas selfies! Então, se alguém disser que você tem uma “cara bonita”, pode ficar feliz, pois estão elogiando a sua face!
Cara (coisa de valor elevado)
Agora, quando alguém diz que algo é “caro”, está se referindo ao preço alto de um item ou serviço. Por exemplo: “Esse carro é muito caro!”. Então, esse “caro” significa que custa muito dinheiro, algo que pode ser pesado no bolso. Quando se diz: “Essa joia é cara!”, não tem nada a ver com o nosso rosto! Outra expressão com significado de alto valor é: “Visitar os meus amigos me é uma coisa muito cara!” Por isso se diz: “Cara, Fulana; Caro Fulano”.
Cara (pessoa)
“Cara” também pode ser usado para se referir a uma pessoa, geralmente de maneira informal. Por exemplo: “Aquele cara é muito sério.” Nesse contexto, “cara” é sinônimo de sujeito, indivíduo ou simplesmente alguém. É uma maneira descontraída e cotidiana de falar sobre uma pessoa, muito comum no português falado no Brasil.
O segredo está no contexto
É fascinante como a mesma palavra pode ter significados tão diferentes, não é? A diferença de sentido fica evidente quando observamos o contexto da frase. No primeiro, estamos falando de algo físico, visível, nosso rosto; no segundo caso, estamos falando de valor financeiro; no terceiro, de alguém. Por isso, prestar atenção no contexto é essencial para não se confundir.
Então, se ouvir alguém falando “cara” por aí, já sabe: pode ser rosto, preço de algo ou pessoa. O que importa é não se confundir!
Qual a relação entre coisa barata e barata (inseto)?
O termo “barato” é um tanto controverso. Alguns entendem que suas raízes têm origem no latim vulgar “barattus”, que significava “troca” ou “negociação”, indicando uma transação comercial na qual se buscava um preço vantajoso. Com o tempo, essa palavra evoluiu para “barato” em várias línguas neolatinas, como no nosso idioma português, mantendo sua conotação original de algo que é acessível ou de baixo custo.
Outra teoria propõe que o termo “barato” possa ter sido influenciado pela palavra árabe “barāṭ”, que significa “libertação” ou “isento de”. Nessa perspectiva, o termo teria sido introduzido na Península Ibérica durante o período de domínio muçulmano e teria adquirido o significado de algo que estava livre de encargos ou impostos, o que eventualmente evoluiu para significar algo de preço acessível.
Seja como for, barato não é o marido da barata… Falando nisso, “barata”, referente ao inseto, tem sua origem em outro contexto linguístico. Derivando do latim “blatta”, a palavra “barata” era usada para descrever os insetos rastejantes noturnos que habitavam principalmente ambientes úmidos. Essa palavra foi preservada ao longo das línguas românicas com poucas variações, mantendo sua associação com o inseto.
Apesar de suas semelhanças fonéticas, “barato” e “barata” possuem significados distintos e derivam de raízes etimológicas diferentes. Enquanto “barato” está ligado ao comércio e à economia, denotando algo de preço acessível, “barata” refere-se a um tipo específico de inseto, com características próprias e uma história evolutiva separada. Por sinal, um bichinho repugnante que é o horror das mulheres.
Assim, embora possam soar parecidos aos ouvidos, é importante reconhecer que “barato” e “barata” têm origens e significados diferentes, refletindo a riqueza e a complexidade da evolução linguística ao longo do tempo.
Curiosidade: O dicionário Cândido de Figueiredo, de 1913, traz o verbete “baratar” não só como sinônimo de baratear, mas também com o significado de “destruir”. Mulheres, chegou a hora de baratar as baratas!
Marcos Antonio Fiorito
(Com informações extraídas a partir do Chat GPT, dicionários Michaelis, Aurélio e Cândido de Figueiredo.)
Não caia na tentação do uso de “a nível de”!
“A nível de”: um erro que precisa ser desnivelado! É cada vez mais frequente ouvirmos a expressão “a nível de” em diferentes contextos. Seja em conversas informais, noticiários ou até mesmo em textos acadêmicos, essa locução parece ter se tornado uma praga na língua portuguesa.
Mas qual o problema com “a nível de”? A resposta é simples: ela é um erro gramatical! A preposição “a” indica movimento, direção ou destino. Já a palavra “nível” é um substantivo masculino. Logo, a combinação “a nível de” não faz sentido do ponto de vista gramatical.
“A nível de” é um modismo que tem se infiltrado em nossa língua, mas que não tem uma função clara ou necessária na maioria dos contextos em que é empregado. Muitos o utilizam como sinônimo de “em relação a” ou “no que diz respeito a”, mas na realidade, ele só serve para complicar o que poderia ser simples e direto.
Exemplos de erros:
- A nível de conhecimento, ele é muito bom.
- A empresa precisa investir a nível de tecnologia.
- O governo não está fazendo o suficiente a nível de segurança pública.
Formas corretas:
- O nível de conhecimento dele é muito bom.
- A empresa precisa investir em tecnologia.
- O governo não está fazendo o suficiente em segurança pública.
Outras alternativas:
- No que diz respeito a;
- Quanto a;
- Em termos de;
- No tocante a.
É importante lembrar que a língua portuguesa é rica e complexa, e existem diversas maneiras de expressarmos nossas ideias de forma correta e elegante. Portanto, vamos juntos desnivelar o uso de “a nível de” e contribuir para a preservação da nossa língua!