monstro

Já lhe ocorreu se perguntar se as palavras “monstro” e “mostrar” têm a mesma origem?

Coisas da senhora língua portuguesa… Ela assim como muitas línguas românicas, é profundamente enraizada no latim, e as palavras “mostrar” e “monstro” oferecem um exemplo fascinante de como significados podem se desenvolver de maneiras divergentes a partir de uma mesma raiz etimológica.

A palavra “mostrar” vem do latim monstrare, que significa “apontar”, “indicar” ou “exibir”. Esse verbo latino tem como raiz monstrum, que originalmente se referia a “algo que aponta ou indica”. No sentido mais antigo, monstrare estava ligado ao ato de fazer algo visível ou claro para os outros, de “indicar com clareza”, e, ao longo do tempo, passou a significar “exibir” ou “mostrar”.

Esse desenvolvimento semântico faz sentido, pois mostrar algo é, essencialmente, chamar a atenção para ele, torná-lo visível aos outros. O verbo manteve seu caráter neutro e funcional ao longo dos séculos, mantendo a ideia de tornar algo evidente, seja de forma física, ao exibir um objeto, ou figurativa, ao expor um argumento ou ideia.

Curiosamente, a mesma raiz que deu origem a “mostrar” também deu origem à palavra “monstro”. No latim clássico, monstrum inicialmente tinha o sentido de “presságio”, especialmente algo que desviasse do normal e indicasse a ira ou favor divino. Era um “sinal” (muitas vezes negativo) enviado pelos deuses para avisar ou alertar os humanos sobre eventos sobrenaturais ou extraordinários.

Com o tempo, monstrum passou a designar qualquer coisa que fosse considerada fora do comum ou desfigurada, algo que quebrasse a norma da natureza ou sociedade. A palavra começou a ser associada a deformidades físicas, criaturas fantásticas e seres que inspiravam medo ou assombro. No período medieval, quando as lendas sobre dragões, demônios e outras criaturas extraordinárias ganhavam força, “monstro” consolidou-se como o termo para designar esses seres anômalos e assustadores.

Assim, a partir do sentido original de “sinal” ou “indicação”, monstrum passou a designar algo que “mostra” ou “revela” uma quebra das leis naturais, tornando-se sinônimo de algo temível, incomum e, em muitos casos, grotesco.

A Divergência de Significados

Enquanto “mostrar” manteve o sentido original de exibir ou indicar, “monstro” passou por um desvio de significado, adquirindo conotações negativas associadas ao medo e à anormalidade. Esse processo de divergência é comum nas línguas, onde palavras que compartilham uma origem comum acabam adquirindo significados muito diferentes, dependendo do contexto histórico e cultural.

Em resumo, monstrare deu origem à palavra “mostrar”, associada à simples ação de exibir, enquanto monstrum, apesar de compartilhar a mesma raiz, evoluiu para “monstro”, uma palavra que carrega uma carga emocional intensa, representando aquilo que é estranho, aterrorizante e fora dos limites do que consideramos normal.